quinta-feira, 15 de setembro de 2011

PRONUNCIAMENTO NA ABERTURA DO II SEMINÁRIO DO ICA

PARA SER GRANDE
SÊ INTEIRO
NADA TEU EXAGERA OU EXCLUI
SÊ TODO EM CADA COISA
PÕE QUANTO É NO MÍNIMO QUE FAZES

ASSIM
EM CADA LAGO
A LUA TODA BRILHA PORQUE ALTA VIVE


Fernando Pessoa


A SERVIÇO DE - UMA REFLEXÃO INGÊNUA (BOBA MESMO)

Uma das principais questões que para nós todos está posta é a nossa própria assunção
nós como servidores públicos. Vivendo em uma sociedade na qual, como aponta Marilena
Chauí “a indistinção entre o público e o privado não é uma falha ou um atraso, mas
é, antes, a forma mesma de realização da sociedade e da política” (2001 p.14), temos a forte tendência - um constante modo de operar - que parte do pressuposto que a Instituição Pública deve, antes de mais nada, atender aos nossos anseios individuais-particulares.

Operamos, assim, como Servidores Públicos, uma inversão na lógica essencial do Serviço Público. Nos colocamos como aqueles a quem a instituição pública deve servir e não como construtores de um espaço no qual podemos e devemos atuar realmente como
Servidores Públicos.

Muito trabalhamos para ter livros, laboratórios, gabinetes e ao conseguir nos
portamos como se fóssemos os donos únicos dos gabinetes, livros e laboratórios. Nos
esquecemos que o que é público é de todos e deve servir a todos. O que é público é um
bem comum a ser compartilhado.

Fazer algo novo e significativo no âmbito do serviço público precisa, portanto, ser
uma ação que parta da superação desta distorção, senão esse algo que surge não é
realmente novo e aqui cabe perguntar: O ICA que queremos será algo novo nesse
cenário?

Para além do aparente esotismo que a Produção Artística adquire na instituição
universitária e que pode dar ao ICA o status de pseudo-novidade o novo, realmente novo,precisa se fazer através uma ruptura corajosa com a lógica departamentalizada,
compartimentaizadoa do “cada um por si”: a lógica mesquinha dos pequenos e podres
poderes cotidianos. A operação/desafio que está proposta para ser nova deve ser
essencialmente integradora - uma ação universitária cuja novidade está na destinação
pública de seus objetivos, na transparência de nossas ações. Nisso, claro, não deveria haver novidade, mas há.

A construção do ICA representa um momento de crise, no sentido que esse termo
tem para algumas culturas não ocidentais: momento de perigo e de oportunidade.
Oportunidade para que consigamos dar um salto que revelará e ampliará as nossas
grandezas. Sim, somos grandiosos! Perigo de nos mantermos na grandiloquente
segurança daquilo que é pequenos e que já está posto: aquilo que nos torna seguramente mesquinhos em nossas certezas.

Tudo é, afinal, transitório, impermanente. A UFC viveu 50 anos sem o ICA. Que
diferença, que contribuição o ICA que cada um de nós há de construir dará para a UFC
em seu caminho qua alcançará em breve 60, 70, 80, 90, 100 anos?

A ARTE QUE SE PENSA (?) NO ICA

Outra questão urgente na construção do ICA, diz respeito ao que nós que temos
em nossas trajetórias sinais artísticos de existência produtiva
, queremos ao nos
inserirmos na senda universitária. Na página 62 de seus Escritos Sobre a Universidade, Marilena Chauí adverte:

TUDO QUANTO ATRAVESSA AS PORTAS DA UNIVERSIDADE SÓ
TEM DIREITO À ENTRADA E À PERMANÊNCIA SE FOR
REDUZIDO A UM CONHECIMENTO, ISTO É, A UMA
RE PRE S ENTAÇÃO CONTROL ADA E MANI PUL ADA
INTELECTUALMENTE. É PRECISO QUE O REAL SE CONVERTA
EM COISA MORTA PARA ADQUIRIR CIDADANIA
UNIVERSITÁRIA.


Essa questão é tão complexa quanto aquela que inicialmente apresentamos. Ao
mesmo tempo em que decidimos entre o público e o público (esquecendo
propositadamente a idéia de fazer do público um espaço de nossas próprias privações),
precisamos cuidar de sermos vivos, criativos em artes. Caso não consigamos ser artistas de nós mesmos, de nossas música, teatro danças e tudo mais, não haverá razão para a existência de um Instituto de Cultura Arte, por mais público que este possa ser

Professor Dr. Elvis de Azevedo Matos
Em 15 de Setembro de 2011