Minha mãe, Dona Raimunda e Nívea, minha irmã.
São assim, lindas!
A cada passo, salto, tropeço, topada, queda, mergulho, vôo... A cada dia um novo son(ho).

CRONOLOGIA
1957 Nasce, no dia 13 de janeiro, PAULO ABEL DO NASCIMENTO. Filho de Dona Raimunda Martins do Nascimento e do Senhor João Batista do Nascimento.
1969 Com 12 anos de idade PAULO ABEL DO NASCIEMENTO é musicalmente iniciado pelo Filósofo e Violonista João Lima. No mesmo ano trava o primeiro contato com o seu primeiro mentor Raimundo Nonato Ferreira Lima
1974 Com 17 anos de idade, Paulo Abel do Nascimento é admitido no Curso de Turismo da Escola Técnica Federal do Ceará.
1976 Contando com a apoio da Professora Laysce Bonfim Maciel PAULO ABEL DO NASCIMENTO reativa oficialmente o Coral da Escola Técnica Federal e, assim, inicia a sua vida como “músico profissional”. No mesmo ano conhece a musicóloga Cleofe Person de Matos que orienta a estudar no sul do país.
1978 Após incidente no Festival de Campos do Jordão do qual PAULO ABEL DO NASCIMENTO foi expulso, o cantor se transfere para Florença-Itália onde dá continuidade a seus estudos.
1981 Cantando na RTBF – Rádio e Televisão Franco-Belga, PAULO ABEL DO NASCIMENTO estréia profissionalmente na Europa.
1985 No palco do Teatro José de Alencar, aos 22 dias do mês de agosto, PAULO ABEL DO NASCIMENTO faz o seu primeiro recital em sua terra natal após os anos de estudo na Europa. No mesmo ano deu-se o início do Projeto Ópera, uma idéia do cantor apoiada fortemente pela Universidade Federal do Ceará.
1986 Cantando no Lake Placid Center Of Arts, PAULO ABEL DO NASCIMENTO faz a sua estreia nos estados Unidos da América no dia 22 de agosto. Aparece como destaque na capa da revista Musique & Concerts.
1987 PAULO ABEL DO NASCIMENTO abre, em Paris, o Ano Internacional Villa-Lobos. No Brasil, antes de vir a Fortaleza, canta na Sala Martins Pena e no Memorial JK em Brasília. Rege no Centro de Convenções de Fortaleza a apresentação da Cena 4 da obra operística “Moacir das Sete Mortes ou a Vida Desinfeliz de um Cabra da Peste”.
1988 Em Hollywood – USA, PAULO ABEL DO NASCIMENTO participa do filme Ligações Perigosas. No mesmo ano, após lançar na França o seu primeiro CD com cantatas e sonatas de Alessandro e Domenico Sacarlatti, o cantor se apresenta como convidado de honra no festival de Campo do Jordão.
1990 Após dois anos de intensa preparação, PAULO ABEL DO NASCIMENTO grava, na França, o CD com canções populares do Brasil juntamente com o pianista Claude Fondraz. No mesmo ano falece Dona Raimunda Martins do Nascimento, mãe do cantor e, com a morte de sua genitora, este entra em estado de profunda depressão.
1991 Canta na reinauguração do Teatro José de Alencar, com o Coral do Povo e alguns “coralistas avulsos” de outros corais, o Magnificat Aleluia de Heitor Villa-Lobos.
1992 Aos trinta e cinco anos de idade PAULO ABEL DO NASCIMENTO morre em Paris, vítima de complicações respiratórias causadas pelo HIV.
You can dance, you can jive, having the time of your life
Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
[473]
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

ELVIS DE AZEVEDO MATOS:
Nasceu em Fortaleza em 1966. Foi alfabetizado pela Professora Darcy e por seus pais que sempre o incentivaram a ir para a escola, principalmente em dias chuvosos quando o infante teimava para não acordar. Durante os anos 1970 foi aluno das escolas públicas Hermino Barroso e Joaquim Nogueira onde, em 1984, concluiu o Ensino Médio como Técnico em Contabilidade.
De 1981 a 1984 o autor deste livro vagou pelas ruas de Fortaleza trabalhando como office-boy da Caixa Econômica Federal. Em 1983 conheceu o Coral da UFC, grupo do qual tornou-se integrante no ano seguinte. No Coral da UFC Elvis Matos foi aluno de Izaíra Silvino e Leilah Carvalho Costa. Ali também teve oportunidade de estudar com Ana Maria Militão Porto e Tarcísio José de Lima.
Iniciou sua “vida acadêmica oficial” na Universidade Estadual do Ceará como aluno do Curso de Licenciatura em Música. Formou-se em 1992 juntamente com mais três colegas que formaram a turma Paulo Abel do Nascimento.
Ingressou como professor na Universidade Federal do Ceará em 1994 após concurso público para o setor de estudos “música e ritmo” do Curso de Arte Dramática. Como professor da carreira de Primeiro e Segundo Graus apresentou o projeto criação do Curso de Extensão em Música da UFC, do qual foi o primeiro coordenador.
Em 1996, após novo concurso público, transferiu-se para a Faculdade de Educação da UFC para trabalhar na área de Arte-Educação. No novo ambiente de trabalho teve a oportunidade de cursar o mestrado e o doutorado em educação orientado pelo Professor Luiz Botelho de Albuquerque (mestrado) e Ana Maria Iorio Dias (doutorado).
Como professor da FACED-UFC coordenou a equipe que elaborou o projeto de criação do Curso de Educação Musical do qual é o coordenador. Colabora com o Professor Erwin Schrader na condução do Coral da UFC e desenvolve intenso trabalho como arranjador e compositor de peças para grupos vocais e instrumentais.
Uma intervenção acadêmica luminosa e denunciante, alumiando sua trajetória individual (vida, música e história coletiva) que ilumina uma experiência de educação musical – meta curricular – acontecida entre sonhos, competência acadêmica, e muita paixão, na Universidade Federal do Ceará.
Uma tese de doutorado, orientada pela Dra. Ana Maria Iorio Dias.
Uma tesuda narrativa. Auto história: história viva de um Projeto pedagógico musical ousado, efetivo.
Narrativa luminosa e denunciante, de ausências (de escolas de música, pública, gratuita, de qualidade, fruto de vontade político-acadêmica) e de presenças reais (de ações humanas-musicais). Um alumiário inventado.
Só lendo, para conhecer. Só conhecendo para crer como é possível, na academia, realizar uma leitura tão lúcida, de uma trajetória humana de musical formação.
IZAÍRA SILVINO
Matos, Elvis de Azevedo. um inventário luminoso ou um alumiário inventado: uma trajetória humana de musical formação. Fortaleza: DIZ Editor(A)cão. 2008. 256 p.